24/05/2010

Os políticos precisam de mais marketing

A Gallup International pesquisou 60 mil pessoas em 60 países. 48% dos entrevistados relacionaram a classe política com a falta de ética e 41% disseram que os políticos são incompetentes. Nada menos que 60% classificaram os políticos como desonestos. Esse índice sobe para 77% quando são considerados apenas os entrevistados da América Latina. Consta que não foram feitas entrevistas no Brasil. Os resultados desse estudo foram divulgados no último Fórum Econômico Mundial. Pesquisa recente feita pela QualiData no Rio Grande do Sul, que avaliou o nível de confiança dos empresários gaúchos em vários tipos de instituições, revela que apenas 4,3% têm alta confiança nos políticos em geral. O índice baixa para 3,1% quando são considerados os partidos políticos.



Muitos são os fatores que determinam essa crise de confiança generalizada na classe política. Porém, um deles é, com toda certeza, a falta de marketing. Calma! Muita calma nessa hora. Antes de prosseguir nessa abordagem cabe um alerta: marketing não é e jamais deveria ser confundido com propaganda, com relações públicas e nem com promoção pessoal. Marketing é uma cultura estratégica, enquanto que propaganda é apenas uma das várias formas de comunicação. Com muita freqüência ouvimos expressões maliciosas como “uma jogada de marketing” ou “golpe de marketing”, quando na verdade o fato relatado não passa de simples propaganda ou publicidade. Mas afinal, o que é marketing? De todos os conceitos que estão nos manuais, prefiro um que define o marketing como um processo de troca, no qual as partes envolvidas devem ficar satisfeitas. Simples assim.


Ora, se a população qualifica os políticos como desonestos e pouco confiáveis, é claro que não está existindo satisfação nessa troca. O eleitor dá seu voto na esperança de que os eleitos simplesmente cumpram suas promessas de campanha. Prometeu, tem que cumprir. Essa é a mais elementar das regras de marketing. Promessa não cumprida gera insatisfação, desconfiança e frustração. Se o eleitor não está satisfeito, esta é a prova de que o que políticos estão praticando pode ser chamado de muitas coisas, até de propaganda enganosa, mas nunca de marketing. Na verdade, a crise de confiança nos políticos existe porque, geralmente, o que eles insistem em praticar é o anti-marketing. Mentiras, dissimulações, posturas antiéticas, conchavos, troca de favores, corrupção ativa e passiva, barganha de cargos, vantagem pessoal, enfim, é longa a lista de mensagens associadas aos políticos que os noticiários nos entregam todos os dias, há bastante tempo. Nada disso é marketing.


Todos os políticos são desonestos e merecem nossa desconfiança? É claro que não. E é exatamente para estes que o marketing tem valor de verdade. Marketing não é enganação e não é manipulação. O eleitor nunca foi bobo, mas hoje está muito esperto. Não aceita campanhas toscas, que tentam transformar candidato em mercadoria de prateleira. Candidato que tenta enganar ou manipular já era. O eleitor pode errar – e ainda erra-, é verdade. Mas os erros serão cada vez menores. Nesse ambiente, o marketing é a arte do ajustamento. Terá vantagem quem melhor souber ajustar suas idéias e posições aos anseios da população. Conquistará respeito quem prometer só o que poderá cumprir. Será digno de reconhecimento quem entender de verdade que eleição é um processo de troca, onde todos devem ficar satisfeitos de fato, especialmente o eleitor. Estará praticando marketing quem assim proceder, não apenas durante a campanha, mas principalmente depois das eleições, seja qual for o resultado.


Marketing: é isso que falta para melhorar a imagem dos políticos.
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*Paulo Rogério Di Vicenzi Rodrigues é consultor de marketing político, pesquisador e diretor da ABCOP – Associação Brasileira de Consultores Políticos no Rio Grande do Sul. Coautor do livro “Marketing Eleitoral: Aprendendo com Campanhas Municipais Vitoriosas” (ABCOP, 2008). É diretor da QualiData Pesquisas e Conhecimento Estratégico. E-mail: qualidata@qualidata.org

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