16/07/2010

Candidatos não devem superestimar efeitos da campanha virtual

por Paulo Di Vicenzi* (tudo@vaibem.com)


Muitos candidatos pretendem apostar alto nos recursos da internet nas eleições desse ano, como se todo mundo estivesse presente no mundo virtual. Eu sou mais cauteloso e recomendo aos meus candidatos-clientes a mesma prudência, para evitar superestimar expectativas fantasiosas com o uso da WEB.


Vamos aos números. Apenas 24% dos domicílios brasileiros têm acesso à internet, sendo a maior concentração nas classes A (90%) e B (64%) - (Veja matéria no Portal Exame).


Ocorre que a classe A representa apenas 1% da população, enquanto a B congrega 19% do nosso povo. Na classe C, onde estão 48% dos brasileiros, apenas 21% têm acesso à internet desde seus domicílios. O acesso à internet ainda é, portanto, coisa de elite!!


A campanha eletrônica do Barack Obama certamente entusiasma e inspira muita gente, vários especialistas em internet estão faturando alto com cursos e palestras sobre o tema. Porém, devemos lembrar que a campanha do Obama foi nos Estados Unidos, onde o voto é facultativo e mais de 200 milhões de pessoas têm acesso domiciliar à internet, contra cerca de 20 milhões no Brasil, onde, ainda, o voto é obrigatório.


Aliás, sobre a campanha do Obama na internet vale observar o seguinte:


1. Ele não se elegeu graças à internet, apesar de que não conseguiria chegar lá sem ela.

2. A campanha dele foi feita ao longo de dois anos, desde as primárias, enquanto que aqui é de apenas 90 dias.


3. Ele usou a internet  basicamente para captar recursos (grana) e, com isso, bancar a compra de espaços em tv e rádio (que lá é paga, enquanto aqui é de graça) para fazer seus anúncios de campanha.


4. Contou com a orientação de boa assessoria de campanha - marquetólogos experientes e muitas pesquisas qualitativas e quantitativas).


5. Havia no povo americano um sentimento de frustração (crise+guerra Iraque+etc), o que determinava um desejo de mudança (Yes we can!). Será que existe sentimento semelhante por aqui??


6. Ele foi um grande competidor, com enorme habilidade de oratória e postura, carismático, soube se posicionar corretamente, representou o novo, a alternativa diferente, catalisou a esperança por dias melhores.


Ou seja, ambiente, circunstâncias, recursos, motivações e clima eleitoral completamente distintas da nossa realidade. No Brasil, o uso inteligente do telefone na campanha tem cobertura muito mais abrange, atinge maior número de domicílios e é um canal de comunicação bem mais eficiente e eficaz que as diversas ferramentas de internet. A propósito, Barack Obama também fez uso intensivo do telefone para que suas mensagens fossem ouvidas pelo povo americano.


* Paulo Di Vicenzi é diretor no Rio Grande do Sul da ABCOP (Assoiação Brasileira de Consultores Políticos).


Siga no twitter: http://twitter.com/PauloDiVicenzi

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